segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Os carrascos fazem a história do Brasil

OS CARRASCOS FAZEM A HISTÓRIA DO BRASL

Gilberto Freire de Melo
Um democrata

Se procurarmos conhecer a História do Brasil, pelo menos a de nossa geração, deparamo-nos com aquela versão da rua do Recife que tem um único lado. A rua da Aurora. Não é que a história tenha andado apenas por um lado. É que existe um lado contado pelos carrascos que incendiaram o outro lado – a história das vítimas.
Quem conviveu com os fatos da recente ditadura política ocorrida no Brasil, sabe de alguma coisa e tem confirmado em depoimentos pessoais. Alguns publicados, porém poucos.
Todos sabemos que o regime militar, para não fugir à regra, fraudava atos e fatos que configurava como história. Por exemplo: A bomba do Rio Centro, no Rio de Janeiro e a do aeroporto dos Guararapes, no Recife. Todos sabem e alguém já teve a coragem de provar, que as duas ocorrências foram fraudulentas. Que não foram produzidas por esquerdistas ou por adversários do regime. A do Rio de Janeiro já foi confirmada pelas próprias investigações que não tiveram as necessárias divulgações. E a do Recife que sequer foi investigada, bem parecidinha com a do Rio de Janeiro – quem sabe? – de idêntica autoria, teve todas as características de uma farsa sem qualquer técnica sigilosa de manipulação.
Alguém se lembra? Era a manhã de 25 de julho (quase era a data da queda da Bastilha!) de 1966. Esperava-se a chegada do General Costa e Silva, candidato único e temporário (era praxe ser ditador temporário!) em substituição ao outro, o General Castelo Branco, também vítima de acidente fatal – como eram constantes os acidentes nesse período! – e o aeroporto estava mais ou menos lotado. Só que, para dar tempo à consumação do artefato, o avião de Costa e Silva pousou em João Pessoa, sob alegação de uma pane que não foi confirmada. Resultado: a bomba explodiu antes do tempo, o general chegou depois e o Pastor Machado que chegava de Natal e não era islamita – era evangélico – pagou o pato. Imagine o que não deve ter passado, nos quartéis da ditadura, um “terrorista preso em flagrante”, acusado de haver atentado contra a vida do general candidato a ditador! Eu não queria, nem de longe, estar na pele dele.
Pois bem, senhores: o artefato explodiu fora de tempo. O Secretário de Segurança de Pernambuco perdeu os dedos da mão, o jornalista Edson Régis de Carvalho e o almirante da reserva, Nelson Gomes Fernandes foram sacrificados. Ninguém viu as certidões de óbito. Alguns feridos e preso o Pastor Machado que, a serviço dos correios de que era inspetor em Natal, com a culpa de haver sido o autor do atentado que não era, nem de longe, endereçado a Costa e Silva. Para tanto, já se tinha providenciado uma pane fictícia do avião da FAB em João Pessoa.
Machado pagou uma caríssima pena por essa farsa. Até que morreu precocemente, depois de demitido da Empresa de Correios, de proibido de assumir o cargo de professor da UFRN, após concurso público e de percorrer as várias e diversificadas sessões de tortura que importavam do Panamá, através de cursos e graduações na Escuela de Las Amérias. especialista em técnicas de tortura.
Hoje, a Comissão de Anistia Itinerante, instalada em Natal, traz a notícia do indeferimento do pedido de reparação feito por sua inditosa viúva, D. Eunice Lessa Machado.