sexta-feira, 9 de outubro de 2009

GERÔNCIO QUEIROZ - 80 ANOS DE AMOR A PENDÊNCIAS

No dia 29 de outubro de 1929, o seridoense Francisco Alves de Queiroz e sua esposa, a areiabranquense Isaura dos Santos Queiroz, legavam ao universo da Várzea do Açu o rebento que batizaram sob o nome de GERÔNCIO, seguido de SANTOS QUEIOZ, sobrenomes familiares levados ao registro civil.
Cresceu e se fez homem em Pendências, embora houvesse que emigrar por obrigações da escolaridade, que, no seu tempo, era uma instituição estrangeira, apenas alcançadas pelas famílias mais abastadas e mais preocupadas com a conquista de outros horizontes, que não se conheciam sem o deslocamento das limitações de seu universo.
Sem ambições de poder, nunca cogitou de se candidatar a prefeito de Pendências, preferindo sempre a escolha dentre os amigos leais aos princípios de amor e de compromisso com o bem-estar da comunidade.
Foi deputado estadual com base solidificada no município de Pendências, onde obteve mais de 70% dos sufrágios. Na campanha seguinte, declinou para seu irmão, Geraldo Queiroz a candidatura que se consumou, sob as baionnetas do Golpe Militar. As posições contrárias ao regime de exceçlão, assumidas a partir de 1964, além das angústias por que passou a maioria pensante dos brasileiros, obrigou-os a se retraírem e a conviverem com as ameaças e até arranhões em sua invulnerável couraça de civismo. A bandeira de seu amor a Pendências era empunhada onde quer que se encontrasse, mesmo nos achaques de boemia, como ocorreu no Rio de Janeiro, em memorável noitada, numa boate em que se apresentava Ataulfo Alves. Daí a pouco, subindo à mesa constituída de outros pendencienses, Gerôncio Queiroz gritou, a plenos pulmões, convidando Ataulfo para uma homenagem que a cidade de Pendências, do Rio Grande do Norte, queria prestar-lhe naquela ocasião. Sob a vaia característica dos cariocas, com que saúdam até "minuto de silêncio", Ataulfo desceu do palco e caminhou solenemente, acompanhado pelo facho de luz, até a embaixada pendenciense de quem recebeu o seu tributo boêmio, aí já seguido de convites semelhantes dos estados da Bahia, do Rio Grande do Sul, de Minas Gerais, dentre outros, interrompendo a sublime apresentação do decano dos dez homens mais elegantes do Brasil, de sua época, e o representante maior do SAMBA-DE-AMOR, genuinamente brasileiro, de todos os tempos.
Foi Promotor de Justiça de algumas comarcas do Rio Grande do norte, com início de ações em Macau e encerramento em Natal. Especialista em direito penal, alcançou, por mérito próprio, a Procuradoria de Justiça em que se aposentou. Certa vez, sob a ternura de Tia Dalila, no santuário boêmio da Redinha, passava, ao largo, o catedrático João Medeiros Filho, que, intimado a participar do evento habitual de um grupo de sabatistas, seus confrades, afeitos às goladas de cana, acompanhadas do famoso espeto de "ginga com tapioca" da anfitriã, se escusou, alegando que, no dia seguinte, iria enfrentar a maior fera do Tribunal do Júri do Rio Grande do Norte, o Promotor Garôncio Queiroz.
Doutra feita, no Tribunal do Júri da comarca de Natal, após a decisão do corpo de jurados, em que o Promotor Gerôncio Queiroz desdobrava os seus argumentos acusatórios, um espectador, das arquibancadas, aos gritos, alegou que a atuação daquele promotor seria digna de cobrança de ingressos de quem a quisesse assistir.
Hoje, visivelmente inteiro, porém ameaçado e já atingido pelos vendavais do tempo, aos oitenta anos, ainda se condena por não haver disputado a cadeira de prefeito de Pendências, que lhe teria dado oportunidades mais eficazes de outras ações que representassem o amor que sempre dedicou ao seu povo e à sua terra.