segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

REFLEXÃO SOBRE AS ELEIÇÕES 2008



Faço chegar aos lutadores (as) do semi-árido a leitura resumida que encaminhei a nível de semi-árido brasileiro(11 estados) sobre as eleições 2008. Segue abaixo minha humilde reflexão:

Não só na minha região, mas em todo o estado e, avalio que no Brasil como um todo, com raríssimas exceções, as eleições 2008 não passou da mesmice, com vitória esmagadora da direita e derrota gigantesca da esquerda.

Foi uma eleição a moda neoliberal, pragmática, endinheirada, corrupta, despolitizada e voltada pra um discurso gerencial, administrativo, obreiro, negando princípios, valores e com total ausência de projetos políticos que assumam compromissos com uma nova realidade pautada na justiça, igualdade e sustentabilidade, que priorizasse os anseios populares e participação orgânica dos trabalhadores (as) na gestão pública municipal.

Os grandes vitoriosos aqui e em todo brasil foi a base direitista do governo federal, incluindo o PT que abandonou a militância e agora contratam exércitos de cabos eleitorais, utilizando-se da mesma prática política dos caciques, coronéis e oligarquias,que alías, são seus aliados. Em todo o Brasil o governo lula e o PT ajudarão a eleger e revitalizar forças políticas conservadoras, retrógadas e a serviço do velho e assino modelo, tão denunciado antes pelo próprio PT.

O modo capitalista de produção que promove violência, crises econômicas e injustiças sociais aqui e em todo lugar sai fortalecido com as eleições municipais apesar da atual crise financeira mundial onde mostra o fracasso da lógica do livre mercado. Os prefeitos eleitos somarão com os governos estaduais e federal no corte de recursos para os setores da educação, saúde, meio ambiente, moradia, reforma agrária, agricultura familiar...etc e, justificarão a necessidade destes cortes, inclusive para o setor produtivo dos trabalhadores(as) para atender e salvar banco falido e todo sistema financeiro. Quem têm dúvida e pensa o contrário se manifeste?

Independentemente do resultado eleitoral, os movimento sociais brasileiros precisam retomar os trabalhos de base para organizar e elevar o nível de consciência social, política e cultural do nosso povo, formando militantes e quadros em todos os movimentos para as longas jornadas e tarefas que virão. No cotidiano das caminhadas precisamos recuperar os valores da prática política que fazem parte da luta histórica dos trabalhadores, como a solidariedade, companheirismo, o espírito de sacrifício, amor ao estudo e dedicação ao povo. Só será possível retomar os processos de mobilização e luta social se formos capazes de construir espaços de lutas unitários, que articulem experiência e intercâmbio de conhecimentos, e respeito às diversidades.

Neste contexto, há um debate dentro dos movimentos sociais sobre os rumos que deveremos tomar. Uma leitura aponta para o esgotamento da chamada democracia representativa, que devemos conquistar a democracia direta e participativa, com a convicção de que as eleições e o voto, por si só, não mudam a vida do povo, e que o poder institucional estatal é incapaz de realizar as reformas necessárias. Neste sentido, a tarefa maior é organizar o movimento popular, realizar formação política e buscar autonomia dos movimentos sociais frente aos partidos e ao governo. Uma outra visão entende que é ilusório fazer as transformações que desejamos sem participar das lutas institucionais, do calendário eleitoral e da ocupação de espaços junto ao poder. Este posicionamento afirma que não é possível um outro mundo sem o papel do Estado, do poder e da representação política. Este é um dilema de concepção e de rumo que os movimentos sociais precisam resolver, sem, no entanto, abdicarem da resistência à mundialização neoliberal.

Abraços Ecossocialista

Autor do Texto: Procópio Lucena

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

BERADEIRO DE CARNAUBAIS É DESTAQUE EM SÃO PAULO


CEAGESP e SINCAESP comemoram centenário da imigração japonesa
Deputado Walter Ihoshi foi um dos convidados de honra do evento
A CEAGESP e o SINCAESP " Sindicato dos Comerciantes Atacadistas do Estado de São Paulo realizaram, nos dias 20 e 21 de setembro, no Entreposto da Capital, uma festa em comemoração ao centenário da imigração japonesa no Brasil. Na ocasião, os organizadores do evento homenagearam com placas de prata comerciantes e produtores agrícolas da colônia japonesa que construíram a história do setor. O deputado federal Walter Ihoshi foi um dos convidados de honra do evento.

O presidente da CEAGESP, Rubens Boffino, ressaltou que a colônia japonesa participou decisivamente do desenvolvimento da agricultura e do abastecimento no País. "A CEAGESP, em particular, deve muito ao trabalho, à disciplina e à preocupação com o a qualidade dos alimentos de pioneiros que, nos anos 60, iniciaram no entreposto suas atividades, depositaram aqui suas esperanças e tiraram o sustento para suas famílias. Hoje, a colônia, que hoje representa 30% dos comerciantes dos Entrepostos da Capital, traz um exemplo raro de integração com os brasileiros, assimilando hábitos e costumes da nossa terra".

Já o presidente do SINCAESP, ROBSON CORINGA, ressaltou que Brasil e Japão celebram a aliança de dois países que se uniram com culturas diferentes, mas com laços muito fortes. "E os dois se beneficiaram com a imigração. Nós oferecemos a possibilidade de um recomeço e os japoneses nos trouxeram sua cultura, marcada pela honestidade, disciplina, determinação e trabalho", disse.

O deputado Walter Ihoshi também se pronunciou, parabenizando a todos os produtores, fornecedores e comerciantes, sobretudo aos nipo-brasileiros, pelo excelente trabalho realizado, diariamente, durante todos esses anos.

Apresentações de dança, de tambores, de artes marciais, shows de cantores, karaokê foram algumas das atrações que encantaram o público presente durante todo o final de semana.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

SERIDÓNISMO


Gostaria de ser do Seridó pelo menos não seria um caduco cultivador da poética varzeana.
Gostaria de ser do Seridó com muito atrevimento, dizer aos sedentos desta procela agropecuarista que, o chão vai ficar preto se não cessarem a morte do bioma caatinga.
Gostaria de ser do Seridó desses bem metido a besta, chamar de nação com muito orgulho o meu chão de aluviões que adentra as carnaúbas.
Gostaria de ser do Seridó como foi meu avô e minha avó, erguer as mãos com a bandeira como faz os ambientalistas.
Gostaria de ser do Seridó, ser o protótipo de Procópio Lucena, ter na identidade a fotografia sertaneja, ser brocoió, ser de peia, do mato, do matulão, das minas, das cabroeiras, do Royal Cinema tocada na Praça de Jardim pela banda de Cruzeta.
Gostaria de ser do Seridó, ser uma gota serena, seriema, caatingueira, jurema e pau de angico, sem ter medo de salgar o próprio couro, manta de bode pendurada num galho de cajazeira.
Gostaria de ser do Seridó e cantar feito gavião peneira na cumeeira da Serra de Santana.
Gostaria de ser do Seridó e ser da gema, protegido pela santa padroeira.
Gostaria de ser do Seridó, ou melhor, vaqueiro dos pés rachados lá das malocas de Parelhas.
Gostaria de ser do Seridó desses que macho nenhum bota boneco, a não ser as donzelas das ruas de São José.
Gostaria de ser, mas o que seria se não fosse das terras da poesia.
Eu seria com certeza defensor de toda beleza das serras do Caicó.

Zelito Coringa – 05/06/08

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Os carrascos fazem a história do Brasil

OS CARRASCOS FAZEM A HISTÓRIA DO BRASL

Gilberto Freire de Melo
Um democrata

Se procurarmos conhecer a História do Brasil, pelo menos a de nossa geração, deparamo-nos com aquela versão da rua do Recife que tem um único lado. A rua da Aurora. Não é que a história tenha andado apenas por um lado. É que existe um lado contado pelos carrascos que incendiaram o outro lado – a história das vítimas.
Quem conviveu com os fatos da recente ditadura política ocorrida no Brasil, sabe de alguma coisa e tem confirmado em depoimentos pessoais. Alguns publicados, porém poucos.
Todos sabemos que o regime militar, para não fugir à regra, fraudava atos e fatos que configurava como história. Por exemplo: A bomba do Rio Centro, no Rio de Janeiro e a do aeroporto dos Guararapes, no Recife. Todos sabem e alguém já teve a coragem de provar, que as duas ocorrências foram fraudulentas. Que não foram produzidas por esquerdistas ou por adversários do regime. A do Rio de Janeiro já foi confirmada pelas próprias investigações que não tiveram as necessárias divulgações. E a do Recife que sequer foi investigada, bem parecidinha com a do Rio de Janeiro – quem sabe? – de idêntica autoria, teve todas as características de uma farsa sem qualquer técnica sigilosa de manipulação.
Alguém se lembra? Era a manhã de 25 de julho (quase era a data da queda da Bastilha!) de 1966. Esperava-se a chegada do General Costa e Silva, candidato único e temporário (era praxe ser ditador temporário!) em substituição ao outro, o General Castelo Branco, também vítima de acidente fatal – como eram constantes os acidentes nesse período! – e o aeroporto estava mais ou menos lotado. Só que, para dar tempo à consumação do artefato, o avião de Costa e Silva pousou em João Pessoa, sob alegação de uma pane que não foi confirmada. Resultado: a bomba explodiu antes do tempo, o general chegou depois e o Pastor Machado que chegava de Natal e não era islamita – era evangélico – pagou o pato. Imagine o que não deve ter passado, nos quartéis da ditadura, um “terrorista preso em flagrante”, acusado de haver atentado contra a vida do general candidato a ditador! Eu não queria, nem de longe, estar na pele dele.
Pois bem, senhores: o artefato explodiu fora de tempo. O Secretário de Segurança de Pernambuco perdeu os dedos da mão, o jornalista Edson Régis de Carvalho e o almirante da reserva, Nelson Gomes Fernandes foram sacrificados. Ninguém viu as certidões de óbito. Alguns feridos e preso o Pastor Machado que, a serviço dos correios de que era inspetor em Natal, com a culpa de haver sido o autor do atentado que não era, nem de longe, endereçado a Costa e Silva. Para tanto, já se tinha providenciado uma pane fictícia do avião da FAB em João Pessoa.
Machado pagou uma caríssima pena por essa farsa. Até que morreu precocemente, depois de demitido da Empresa de Correios, de proibido de assumir o cargo de professor da UFRN, após concurso público e de percorrer as várias e diversificadas sessões de tortura que importavam do Panamá, através de cursos e graduações na Escuela de Las Amérias. especialista em técnicas de tortura.
Hoje, a Comissão de Anistia Itinerante, instalada em Natal, traz a notícia do indeferimento do pedido de reparação feito por sua inditosa viúva, D. Eunice Lessa Machado.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

A PRISÃO DE CAPUXU

Capuxu era um cidadão oriundo das bandas de Sacramento, atual município de Ipanguaçu, mais precisamente da Lagoa de Ponta Grande. Chamava-se Manoel e chegou em Pendência de Cima, ainda garoto, com a mãe viúva, conhecida por Maria da Quixabeira, e mais três irmãos chamados João, Lucília e Severina. João sustentava a família, enquanto viveu pois teve falecimento precoce. Lucília era da congregação Mariana e não perdia os eventos religiosos, nas quatro festas do ano, quando se paramentava com aquele vestido branco e a fita azul no pescoço, para as missas e novenários lá na rua, como era por todos denominada a Pendência de Baixo, na Igreja de São João Batista.
Capuxu, carinhosamente tratado assim por sua mãe que o chamava solenemente de Manué, ganhou o honroso apelido por extensão de um ricaço chamado Manoel Capuxu, senhor de terras e comedor das cabocas lá das bandas do sítio Tira Fogo, nas proximidades de Ponta Grande, em Sacramento como já foi dito. Severina, a mais nova, além de vestir-se e higienizar-se mal, tinha alguns parafusos frouxos e não tinha qualquer habilidade profissional que lhe ensejasse o corriqueiro ganha-pão. Tanto assim que, após o desaparecimento dos familiares, que duraram pouco, e de um acasalamento meio desastrado, o único dos três irmãos, apesar da (ou devido a ?) insanidade, passou a viver da generosidade dos vizinhos.
Não tinham outra referência nem ostentavam talento ou conduta que os elevasse a destaque na comunidade. Os minguados recursos que lhes davam sustentação alimentar não tinham a garantia diária, vez que, não encontrando trabalho braçal avulso permanente, Capuxu, cujas mínimas habilidades aliadas a uma coragem igualmente desalentada, não propiciavam ao nosso herói maiores resultados financeiros. E quando, em algumas noites, não muito raras, ouvíamos aquele vozeirão de Capuxu, entoando canções cujas letras e melodias eram apenas e exclusivas de sua lavra, só conhecidas por ele, a vizinhança comentava.
- Ele hoje não teve o que jantar.
E era visto por quem passasse por aquela choupana coberta de palhas e de paredes meio esburacadas, numa varanda ou alpendre rústico, adaptado em um cômodo da frente da casa, embalando-se em sua rede, a cantar, a todo o volume, aquelas canções – quem sabe? – improvisadas ou ditadas pelo estômago vazio, que de tudo é capaz.
Já lá se ia a década de 40. E não eram muito raras as vezes em que Capuxu não tinha o que jantar. Ocorreu, porém um dia em que ele não teve também o que almoçar e, por conta disso, deu-lhe uma crise de revolta, de valentia, de quase desespero. Num ataque de delírio, deu de mão de um facão e, aos gritos, cortava os ramos dos arbustos existentes em frente a sua casa, pulando e cortando, parecendo um louco. Essa ação estimulou algum dos vizinhos a avisar o Delegado de polícia, que, casualmente, passava nas proximidades, vindo de uma pescaria nas lagoas mais próximas.
A autoridade policial lá da Pendência de Baixo, com jurisdição nas três Pendências, era representada por um soldado conhecido por Macaco-homem. Era um preto feio, magrelo, mau pronto, que, nem todos os sentimentos anti-preconceituosos ou o máximo de toda a boa-vontade do mundo inteiro lhe negava a aparência com o bicho primata que lhe emprestara o apelido. Nunca soubemos o seu nome de batismo.
Como eram poucas as atividades de seu ofício, Macaco-homem era dado a caçadas e a pescarias que, além do lazer, propiciava algum recurso que complementava a receita de seu orçamento e o refrigério de sua mesa. Nesse dia, procedente de uma das pescarias que costumava praticar ali nas proximidades de Pendência de Cima, onde as lagoas e os peixes eram mais abundantes, Macaco-homem, ouvindo aquele barulho desusado, inventou de investigar o que estava acontecendo e o porquê daquela gritaria.
Chegou ao local e viu o valentão aos pulos, de facão na mão, cortando galhos do mato e enfrentando, aos gritos, imaginários inimigos, que o delírio da fome os apresentavam mais agressivos. Como Dom Quixote de la Mancha, o lendário personagem do espanhol Miguel de Cervantes (Século XVI) que enfrentava legiões de adversários, apenas existentes em sua ingênua e delirante imaginação, representados pelos moinhos de vento,
Aproximando-se, e assumindo o pleno exercício da autoridade policial, Macaco-homem, que, embora a sua indumentária mais identificatória de pescador que de autoridade, dirigiu-se a Capuxu e gritou, com veemência:
- Teje preso!
Capuxu, ao receber a voz de prisão, e reconhecendo no pescador a digna autoridade policial, soltou o facão e, num gesto mais rebelde que obsceno, estirou o dedo médio da mão direita e batendo com as costas desta na palma da mão esquerda, disse bem alto:
- Taqui que eu vou!
O delegado, para não ficar desfeiteado e não perder sua autoridade, respondeu, no mesmo tom, com a mesma encenação:
- Taqui que eu levo!
Foi essa a primeira e única ocorrência policial registrada, num período de mais de cinqüenta anos, na existência de Pendência de Cima.
Assim como viveu, Capuxu morreu e foi sepultado, - quem sabe onde? – sem a referência sequer de uma cruz no lugar do sepultamento que também não teve identificação.
Registramos cinqüenta anos sem ocorrência policial, porque, retrocedendo no tempo, colhendo informações aqui, acolá, não tivemos como tresandar para além desse período, que, apesar do Campo de Sangue, registrado por Manoel Rodrigues de Melo, e das assombrações feitas aos filhos pelas mães de Pendência de Baixo, pode ultrapassar muito os cinqüenta anos, que aqui registramos.

A Subserviência da Petrobras

A SUBSERVIÊNCIA DA PETROBRAS

Gilberto Freire de Melo

Há muito que a PETROBRAS deixou de ser uma empresa a serviço do Brasil. É mais uma subsidiária ou subordinada ao cartel internacional das distribuidoras de combustíveis do que uma empresa genuinamente brasileira como a pretendem rotular. Haja vista a submissão ao truste internacional que banca os preços dos combustíveis. Por ser uma empresa de origem eminentemente nacional, que se gaba de haver dado autonomia ao consumo brasileiro, deveria ser a dona exclusiva de seu produto, e não vendendo combustíveis, aos brasileiros, pelo preço do mercado exterior.
É inconcebível que se pague, no Brasil, quase R$3,00 por um litro de gasolina brasileira, se, na Venezuela, a gasolina de lá custa apenas R$0,10. Isso mesmo! DEZ CENTAVOS. Por quê? Quando consumíamos gasolina comprada no exterior, isso nos idos 50 e 60, que cachorro era amarrado com lingüiça, tudo bem. Era errado, mas se admitia.
A mídia está aí a divulgar o surgimento de imensos mananciais de petróleo, nas bacias de Campos, de Santos, da Amazônia, de várias partes do território nacional, porém os preços são ditados pelas bolsas de Nova Iorque. O próprio álcool ou etanol, que não pertence às multinacionais e que é produto exclusivo dos agricultores brasileiros, é subordinado aos preços da subserviente Petrobras . Por quê?
O Brasil atual não exerce autonomia sequer sobre o preço do gás natural que é ditado pela Bolívia. Basta uma greve ou protesto popular dos aborígenes bolivianos para que se altere o preço do gás produzido em Guamaré e Alto do Rodrigues. Como, quando e onde poderemos falar em autonomia? Que autonomia é essa se os preços de nossos produtos, exclusivamente nossos, não são ditados por nós?
Por outro lado, alegam, divulgam, publicam que cartel é uma artimanha criminosa. E, como tal, deve ser punida a sua prática. Como, se as distribuidoras de combustíveis multinacionais seguidas pelas cabisbaixas brasileiras (é bom dizer!) a praticam abertamente, como se não tivessem que obedecer às leis do Brasil? Por que o Ministério Público brasileiro, a Polícia Federal aceitam e até dão cobertura às distribuidoras de gasolina que usam e abusam dessa prática criminosa sem qualquer inibição? Se não dão por que não proíbem, pelos menos as “bandeiras BR”?

domingo, 31 de agosto de 2008

PENDÊNCIA DE CIMA - Uma comunidade de homens daquilo roxo

"Aqui caindo em conta-gotas/Pingando quente do coração" - O autor.A partir daqui haverá sempre alguma nota histórica sobre Pendência de Cima - Uma comunidade de homens daquilo roxo.

O PRIMITIVISMO

Era um mundo primitivo, em estado bruto, quase selvagem. Isso mesmo. Não éramos eminentemente selvagens porque já havíamos passado pela igreja católica onde recebemos os rituais do batismo, que era, para quase todos, considerado um vestibular para entrada na chamada Civilização Ocidental Cristã. A população, porém, era pacata, ordeira, sem ser passiva.
Embora sem conviver com as aldeias ditas civilizadas, os habitantes de Pendência de Cima não eram subservientes, não dependiam de estranhos. Tinham autonomia. Até no ato de votar, que não era obrigatório. E produziam tudo quanto necessitassem para a sua manutenção alimentar, exceto o açúcar e a farinha de trigo que eram conseqüência dos avanços industriais que desconhecíamos.
E assim permaneceu até que Padre Zé Luiz, voltando da Europa, após exílio exigido pela ditadura militar, fixou residência e Casa Paroquial em Pendência de Cima, seguido de Luiz de Galdino, que, casado em segundas núpcias com Maria Mônica Freire, lá adiante identificado, veio morar aqui também, transformando, inicialmente, a casa de seu pai – Galdino Mucuripe – em aposento e hospedagem das mais altas autoridades econômicas, políticas e administrativas de qualquer procedência, e, posteriormente, indo para a Rua da Frente, ali se instalando com residência mais moderna e mais confortável, com aparelho sanitário e papel higiênico, onde recebia convidados ilustres que os fazia conhecidos e identificados com a comunidade. Foi quando se viram as festas, as recepções mais festivas não existentes em outras comunidades. Até pouso de aviões se viu em Pendência de Cima.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

ZÉ BEMBÉM

ZÉ BEMBÉM

José Nunes Freire, centenário patriarca, falecido a 23 de agosto de 2008, com 106 anos de idade, em plena fase composição deste trabalho, casado com D. Marfisa Roque, falecida, teve apenas uma filha chamada Maria Diomar, que atendia por Mariinha, não era apenas a filha única mas a menina dos olhos de seu pai. Casou-se com Chico de Tomé Priquito. Foi vaqueiro de alguns ricaços das Pendências, inclusive de Luiz Gonzaga, um dos mais significativos povoadores de Pendência de Baixo, proprietário rural e criador de gado na região.
Além de vaqueiro, Zé Bembém tocava viola e arranhava improvisos, parte da literatura nordestina que chamaram mais tarde de “cordel”, e, sem maiores penetrações, decorava e cantava para as platéias domésticas, obras-primas do cancioneiro popular, como os romances do Pavão Misterioso, Pedrinho e Julinha, Cancão de Fogo, Coco Verde e Melancia, enfim, os mais conhecidos e as mais brilhantes obras da literatura do nosso Nordeste.
Acabou sendo ministro coadjuvante da capela de Nossa Senhora de Fátima, em Pendência de Cima, que ajudou a construir e a instalar, em tempos de Padre Teobaldo. Mais tarde, com a chegada de Padre José Luiz, adiante apresentado, constituiu-se, por disponibilidade, auxiliar direto da administração quando a Casa Paroquial foi transferida para Pendência de Cima, ali mesmo atrás da capela de Nossa Senhora de Fátima, em seguida com a criação dos Ministros, recolhidos do laicato, já em épocas de João XXIII, foi nomeado por Pe. Zé Luiz o primeiro ministro coadjuvante das ações e dos rituais religiosos. Assimilava com inusitada rapidez a aplicação dos rituais em que lhe era dado funcionar, e acabava casando e batizando, dentro de um conceito de respeito, de severidade e de religiosidade que, inteligente, ministrava e administrava os ritos e as atividades que lhe eram atribuídas. Posteriormente, esse ministério se expandiu e outras pessoas da comunidade foram admitidas.
Pendênciade Cima é a única comunidade da região que viveu mais de 50 anos sem qualquer ocorrência policial. Não se credite isso a uma população passiva, sem altivez, sem brios. Ocorre que havia lideranças na comunidade que se encarregavam de manter a ordem e a harmonia entre as famílias, evitando conflitos, desavenças, desacordos. Essas lideranças se chamavam Nezinho Carlos, Joaquim de Melo e Zé Bembém que chamavam os litigantes e os convencia ao acordo, excluindo a desarmonia de sua convivência. Enquanto essas lkideranças conduziram os habitantes, Pendência de Cima foi o exemplo de unidade, de união e de paz que se conhjeceu.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008


*Giberto Feire de Melo

- Enveredando pela pesquisa histórica e social, publicou, em 1999, MANOEL TORQUATOHerói e Vítima da Guerrilha, quando já residia em Natal e já publicava seus artigos e suas crônicas nos jornais e periódicos da capital.
Custo 25,00 - Esgotado
084-3234-8881/9926-4566


*Gilberto Freire de Melo-

REPORTAGENS QUE NINGUÉM ESCREVEU
, contos documentais que retratam fatos inéditos ocorridos na região do vale do Açu.
À memória de Joaquim de Melo, uma enciclopédia humana de registros históricos, a quem agradeço as respostas que deu a todos os meus questionamentos.
Custo 20,00 Reais
084-3234-8881/9926-4566

*Gilberto Freire de Melo-

A VIRGINDADE PROFANADA
,
um ensaio sociológico sobre o tabu da virgindade feminina, ilustrado com contos temáticos documentais, publicado através da Coleção Assuense, graças à consciência cultural e à generosidade do Prefeito Ronaldo Soares.
Custo 20,00 Reais
084-3234-8881/9926-4566

*Gilberto Freire de Melo

- ABSURDOS GRAMATICAIS, coletânea de erros gramaticais produzidos e exibidos nos jornais escritos, falados e televisivos, em livros e na mídia em geral, com a citação dos erros, a identificação dos autores, a correção gramatical, algumas vezes satirizada, já aprovado pela lei Câmara Cascudo, na Comissão de Cultura estadual.
Custo 20,00 Reais
084-3234-8881/9926-4566

Gilberto Freire de Melo

ALTO DO RODRIGUES - Uma História de Amor e Progresso – Paisagens, famílias e costumes de uma população solidificada pelo trabalho, pelo apego familiar e pelo trabalho, desde seus ancestrais até os nossos dias, infestados pelas pesquisas e pelos royalties da PETROBRAS.
Custo 20,00 Reais
Direto com o Autor:
084-3234-8881 / 9926-4566

Pendência de Cima

POR QUE INICIAR DE CIMA PARA BAIXO?

É uma questão de princípios. Sei que as grandes obras, a partir das pirâmides do Egito, se iniciaram de baixo para cima, porém os símbolos, os rótulos, os títulos, as coroas onde são colocadas?
As grandes obras são iniciadas de baixo para cima, mas esta, que não é uma grande obra, permitam-me iniciá-la de cima.
A pretensão básica deste trabalho, é fazer uma trilogia, onde as três pendências, que se fundiram numa única, com título e rótulo no plural, se destaquem e se apresentem assim: isoladamente.
Sei que poderá parecer vaidade, pedantismo, tolice, bobagem, porém as grandes coisas são colocadas em cima:
- Em cima do trono da Rainha Elizabete e do Castelo de Windson foram postos a coroa e o brasão do império britânico.
- Não se fez o candeeiro para por embaixo da mesa;
- O símbolo do catolicismo, que não se iniciou de baixo para cima, como o cristianismo, a cruz, está em cima das edificações que representam o Vaticano.
- Em cima de todos os tomos da literatura portuguesa, está Os Luzíadas.
- Acima de tudo quanto representa a literatura brasileira, está Machado de Assis.
- Na cumeeira da literatura potiguar, está a imagem de Câmara Cascudo.
Sabendo que os mais importantes ícones de qualquer fundação são postos na parte superior, reservo-me o direito pessoal de iniciar este trabalho de cima para baixo. E lá vou eu...

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

sexta-feira, 6 de junho de 2008

O nazi-fascismo do Coronel Maciel

Ainda sob a carapuça que lhe serviu – quem sabe? – de cetro e coroa nos tempos antidemocráticos vividos e sofridos no Brasil, recentemente, o Coronel Maciel taxa de canalhas os generais e atuais comandantes das Forças Armadas do Brasil redemocratizado, que admite impuníveis os seus vômitos latrinófilos. E através desses dejetos verborrágicos fala em dignidade, e cita conceitos de grandeza, pegando carona nas liberalidades da democracia de que desfruta imerecidamente, numa auto-rotulagem de um nazi-fascismo desmemoriável.
Gilberto Freire de Melo – Outro Democrata.

terça-feira, 27 de maio de 2008

INIMIGOS DA CIÊNCIA E DA HUMANIDADE

Gilberto Freire de Melo

Com uma mentalidade que antecede a lendária Arca de Noé, vetustos pregadores religiosos, classificados por Saulo Ramos - o augusto autor de Código da Vida - como "sobreviventes das cavernas e parte da igreja católica que ainda combate Galileu", que, em nada contribuíram nem contribuem para a melhoria da qualifdade de vida da humanidade, fazem ferrenha oposição ao progresso da ciência na hora do anúncio esperançoso da cura, da reparação e recuperação de órgãos do corpo humano que, lesados, danificados, condenam à morte seus infelizes portadores que não contam com outra esperança, sequer a piedade divina.
Tresandando alguns anos ou séculos até, poderíamos fazer lembrar a esses inimigos da ciência e da humanidade - por que não dizer? - que estão perdendo a oportunidade do perdão, que apregoam, de suas culpas ns execução de nove milhões de judeus de seres humanos pela Inquisição e na cremação de seis milhões de judeus - diga-se cristãos - que Hitler levou vivos aos fornos crematórios nazistas, sob a complacência e lava-pmãos do Santo Padre Pio XII, em apoio incontestável ao Eixo - Alemanha, Itália e Japão -, na Segunda Guerra Mundial.
Negociando, hoje, o seu apoio ao uso benéfico, pela ciência, dos milhões de células-tronco embrionárias, que os opositores não sabem justificar sua permanência em frigoríficos industriais, os pretensos defensores da fé teologal bem que poderiam trocar esse apoio por indulgências celestiais - aquelas em que há bem pouco tempo ofereciam a quem optasse por serviços e adesão a um reino divino que pretendiam lhes pertencesse e ainda pretendem lhes pertençam como mercadoria negociável.
Essas indulgências que ofereciam em número crescente, proporcional ao volume do sacrifício ou do empenho dos devotos, bem que poderiam servir-lhes na reconsideração das próprias culpas acumuladas desde a Ordem dos Templários, passando pelas Afrenas Romanas e pela Inquisição que o Vaticano teima em chamar "Santa Inquisição", enquanto não se lhe aplica um puxão de orelhas como aquele de João XXIII que fez extinguir de uma certa oração religiosa a expressão "Pérfidos judeus" que alguém, além de nós, deve lembrar-se, é claro!

segunda-feira, 21 de abril de 2008

UM RIO FEDERAL


Foto Blog Enchente do Açu

Zelito Coringa (*)

Ele nasce na serra do Bongá divisa da Paraíba com o Ceará, percorre grande parte do torrão paraibano, sendo conhecido por Piranhas-Açu. Porém, quando atravessa o Estado Potiguar, passa a ser chamado simplesmente de Rio Açu. Após a construção da "Barragem Armando Ribeiro Gonçalves" - Inaugurada oficialmente em 1984, tornou-se totalmente perene. Ouviu-se de olhos apitombados as promessas fabulosas do desenvolvimento que chegaria a esta região riquissima. Dado pelo corte da fita inaugural das autoridades e estudiosos proféticos da época. Sob o controle das sangrias haveria financiamentos: Eletrificação com baixos custos, implementos agrícolas, capacitação e direito a muita pabulagem nas pontas de calçadas do puxaquismo, e até amedrontamentos de baleias destruidoras de altares. Fui menino que pinotava de barreira à barreira no leito do rio Olho D'água, mergulhava feito piaba tonta, este um de seus afluentes. Naquela meninice não imaginava que as águas ficassem presas por comportas gigantes e acabasse a diversão dos pobres inocentes como eu. O vírus causador da sua morte lenta, pode ser batizado pelo povo de apoderamento do que é nosso, que migra de terra em terra, principalmente se o solo for rico em nutrientes e as leis ambientais forem dissimuladas. Configura-se nocivo aos que forem defensores desta causa. Num tempo não muito distante atribuiam-se toda a maldade aos justiceiros, bandoleiros e aos cidadãos conscientes. Agora parece tudo invisível aos olhos de muitas autoridades. Não há mais Manoel Torquato com seu sindicato do Garranho, Lampião com o seu bando de saquedores, nem fanatismo, tabus e pudores, nem a ilusão ou razão de nem um idealismo. Tudo é questão de sobrevivência e solidariedade aos que já quebraram seus potes de água ao beberem seus agrotóxicos. E quem daqui pra frente pagará a conta do consumo potável das irrigações gigantes? Será que é somente a população ao escovar os dentes na pia? De quem é o dever de cuidar das nossas fontes? O presidente, o governador, o prefeito, o vereador do povo, o deputado doido, o senador afoito, e os mais defensores do povo? E os meninotes do presente que lavam suas motos e carros no leito do rio, mijando o álcool do último porre? - Não digam que é inverdade, nem atirem a primeira pedra. Isso tudo quem disse foi um cabra metido a doido das bandas dos carnaubais, e eu na escutação da conversa esqueci de gravar seu nome. Façamos valer um novo gesto educativo, reafirmando que somos varzeanos da mesma nascente.

O autor é músico e poeta, natural da Cidade de Carnaubais-RN.

E SE NÃO HOUVESSE MILLÔR?


Salpicados, respingados, quase encharcados pelo sensacionalismo da mídia, abrimos VEJA e vemos, em 23.04.08, em meio aos escândalos, aos crimes hediondos, à impunidade, à torpeza das intenções de perpetuação no poder, em desrespeito à sapientíssima lucidez do presidente do STF, Dr. Gilmar Mendes, a nos ensinar o que é democracia e estado de direito, de degrau em degrau, pousamos na página de Millôr.
E, para gáudio de nossa modesta, quase rasteira eloqüência, deparamo-nos com outro emaranhado de ensinamentos clássicos, distantes, muito distantes do alcance de nossas armadilhas captadoras. Millôr nos saúda com as mais sábias tiradas filosóficas de Santo Agostinho – sim! Isso mesmo! – Aquele Santo Agostinho que, sem aviões, sem OVNIs, sem mísseis, saltou lá dos mais libidinosos charcos senegaleses, apenas com a sabedoria e o “pulo do gato”, para a santificação.
E Millôr, saltando também do cordelista Cuíca que, por ser nosdestino, conterrâneo, portanto, de Catulo da Paixão Cearense, de Zé Lins do Rego e de Renato Caldas, igualmente deveria ser santificado. Saltando Millôr, como dizíamos, a atingir outras celebridades, como Goulde, Nobel, Hearst, Frick, Gurbelkian, Orson Wellis, Murdock, Chateaubrind e Ermírio de Morais (para não se dizer que desprezou os brasileiros), sacando os magos da comunicação e de outros mundos, ainda não santificados, por falta de vagas – quem sabe?
Com toda essa gama de celebridades a nós apresentados informalmente, lá no final, em roda-pé do melhor cursivo, Millôr ainda nos convoca a assistir a um pega de Hearst com Orson Wellis, sob arbitragem de Freud e referências especialmente libidinosas com que Herast nos desacata, exibindo a desrecatada, porém “pudenda periquita de sua eterna amante Marion Davies”.
Nós, inebriados, abestalhados, perguntamos: E SE NÃO HOUVESSE MILLÔR?

Gilberto Freire de Melo
Fone 084. 3234.8881
E-mail: gefemelo@ig.com.br

O GUARDIÃO DO RIO

HOMENAGEM EM VIDA
AO POETA ANTÔNIO FRANCISCO -


Nas Sete Linhas do Cordel Xilogravado

Zelito Coringa (*)


Quando a viola atiça
O entrançado das rimas
E uns três contos de réis
Ofertados para as primas
Com seus trejeitos tonais
Pelos arpejos risais
No jardim das pantomimas

E o girassol dos versos
Se abrindo de bondade
Na janela do improviso
Com toda velocidade
Faz voar o tamborete
Onde o pé de parede
É palco da felicidade

Nessa hora os presentes
Batendo palmas de mão
E todo bem que existe
Salta do seu coração
Tirando da inteligencia
Na rapidez da urgencia
Montado no seu bordão

Feito a cigarra e a Jia
Rezando sua novena
Pedindo ao pai do céu
Gotas de água serena
E quase morto de sede
O sertão chora na rede
Nos braços da Quarentena

E a familia se ofende
Da tirania da fome
Os filhos de Zé Ninguém
Não vou dizer sobrenome
Magricelas e sambudos
Foram buscar nos estudos
O pincel que pinta o nome

Quando alguém na multidão
Nomeiam de vagabundo
Por viver de praça em praça
Com uma viola sem fundo
Tocando a simplicidade
Sem pensar em vaidade
Livre das grades do mundo

Certamente é esta a sina
Do cantador de repente
Que mesmo sendo sofrida
Ofereçe de presente
A sua face pintada
Sempre pode ser tocada
Por qualquer mão inocente

Por nome Antôi de Nira
Lá da lagoa do mato
Vivo na face do riso
Brincando no seu regato
Nas estótrias fabulosas
Do livro das primorosas
Que ganhei depois de um trato

Desse conto estridente
Tocado em Si bemol
Dentro das linhas do mote
No caderno do arrebol
Fazendo a terra chover
Botando pra derreter
As sete brasas do sol

Quando o Máscara de Prego
Filho do rei invejoso
Tomou o canto da feira
Pensando ser fabuloso
Inventou falso talento
Fabricando com fermento
Asas do misterioso

Sem a leveza das penas
E as cores da verdade
Rimando pé de besteira
Desfazendo a humildade
Por mais de dez não me toque
Se maquiou no retoque
Com o batom da falsidade

Pensando ser Zé Limeira
Deus afamado no verso
Mais uma pedra certeira
Dum raio fez o reverso
Esticada rente ao gancho
E por entre o garrancho
Acertou o vil perverso

E zuniu no pé do ouvido
Daquele mente de sarro
A pedra da baladeira
Feita di’um torrão de barro
Bateu no peste traquino
Que partiu pisando fino
No cuspe do seu escarro

Foi simbora o descarado
Soltando o matulão
Sumindo de arrebate
De pés descalço no chão
Numa ponta de calçada
Vi meu Riso da risada
Mostrando seu chinelão

E falando da infância
Repleto de alegria
Sem pular fora do tempo
No compasso repetia
Que estava morto seu ego
Foi-se o Máscara de prego
Vencido na poesia

Já raiando quase o dia
Recitou com mais apuro
Dizendo para a platéia
Lixo não é pé de muro
O verde em toda retina
É a terra nordestina
Em nossa visão de futuro

*Trechos do cordel (Inédito) - O GUARDIÃO DO RISO - Homenagem em Vida ao Poeta Antonio Francisco
Autor: Zelito Coringa – Multi Instrumentista,Compositor e Poeta – Poti-varzeano de Carnaubais/RN
Zelittocoringa@hotmail.com – 84-9999-7517 / 9117-2530

A SANTA LUZIA DO MEU TEMPO




Gilberto Freire de Melo (*)

Conheci-a quando ainda se chamava Poço da Lavagem, passando por Santa Luzia e hoje Carnaubais. Ainda bem que não teve, como tantas, o indigesto apelido de "Senador Fulano", "General Sicrano" e coisas assim, sem qualquer identificação com seus costumes, com suas origens, com sua paisagem, com sua cultura nem com o respeito merecido por seu povo.
Vi e freqüentei as gloriosas e inesquecíveis festas de Santa Luzia. Ficava à margem esquerda do rio Açu que era transposto, quando seco, tudo bem, mas, quando cheio, em toda a sua plenitude, em embarcações rústicas, ou a nado, sempre em companhia de tipos e de pessoas com características próprias e insubstituíveis que acorriam aos primeiros dobres festivos do sino da padroeira, convidando a população local e de outras comunidades, mesmo distantes, para os festejos que duravam semanas inteiras, num ritual, ao mesmo tempo, místico e profano, onde se acotovelavam os artesãos, as doceiras, os jogadores, os boêmios, as beatas e as quengas num redemoinho fervilhante de alegria e de festa viva.
O carrossel, sem qualquer artifício elétrico ou eletrônico, era impulsionado por braços humanos que faziam girar, rodar, correr num frenesi alucinante e contagioso, animado pelo conjunto musical de Mariano ou de Zé Menininho, os maiores tocadores de concertina da região, que não apenas convidava, mas obrigava homens, mulheres e crianças à participação e à exploração de suas funções até porque teriam, no final, assunto para os comentários na ociosidade dos alpendres e nos intervalos das tarefas do corte de palha, à sombra magnífica e refrescante das carnaubeiras.
As doceiras - que ornamentavam as ruas com suas mesas coloridas, lindas, cheias de alfenim, cocadas, doce-seco, bolo-de-milho, pé-de-moleque, doce-de-coco, raiva, sequilho, "gelés" com guarnições de toalhas brancas, alvas, limpas e asseadas, e tantas outras iguarias que só a lembrança nos enche a boca d’água.
As gengibirras e os aluás gostosos, engarrafados para venda a retalho, que, mesmo sem o gelo, um produto inexistente, refestelavam o pessoal participante, num consumo guloso em que se salientavam os sabores, o colorido e a qualidade da fabricação.
As mesas apinhadas de cestinhas coloridas, de bonecas de pano, de brinquedos infantis produzidos num artesanato multicor, mais humano e artístico que comercial, atraíam não apenas as crianças, mas também os rapazes e as moças que, de mãos dadas, “brincando com o coração”, percorriam as imensas filas de mesas recheadas de peças do exclusivo e inigualado artesanato local.
A jogatina que não era proibida e em que se destacavam os mais espertos, os artistas das cartas e dos dados - os bozós; a supremacia astuciosa de Tributino na manipulação do baralho viciado e do "caipira" em copos de vidro, onde fazia valer a inteligência e a aptidão insuperáveis, sempre ganhando de nós, os "trouxas", como nos apelidava.
Os sambas, as batucadas, os cocos de roda e os "fobós" tocados por Mariano ou Zé Menininho atravessavam a noite e as madrugadas, num bamboleio entremeado de requebros e de sapateado, numa esfregação alucinante e sensual, num remelexo indescritível e emocionante, apenas entendido por aqueles que participavam e que amanheciam de olhos grudados de poeira do piso de barro batido e da fumaça das lamparinas ou piracas iluminadoras do ambiente.
As serestas em que se distinguiam o violão de Pedro Lélis, o cavaquinho de Francisquinho Nascimento, o pandeiro de Manoel Galo e a voz de Anterino, às vezes acompanhados do saxofone de Mestre Avelino, o mais consagrado maestro da região, digno de registro nos anais da história, hoje apenas lembrado em poucas memórias que fatalmente desaparecerão.
A banda-de-música executando alvoradas memoráveis, percorrendo, ao quebrar da barra, as poucas ruas do povoado, que acordava ao som de valsas como "Royal Cinema" e dobrados como "Cisne Branco", inesquecidos por quem conviveu com esses festejos, e invejáveis àqueles que não os conheceram, nunca mais repetidos, até porque a Santa Luzia do meu tempo foi cruel e impiedosamente implodida pela violência das enchentes do rio que lhe dava razão de existir. E a saudade, como dói!

Texto extraído do Livro do autor que será lançado Brevemente

sábado, 19 de abril de 2008

A NASCENÇA DO ZÉ MOSQUITO


Zelito Coringa (*) Autoral

ANTES DO PARTO
Os raios da estrela azul do ser criativo refletirão sobre os meus pequeninos pés. Permita-me ó Grande Musa do universo ter a proteção e a benção para que seja verdadeira a minha voz. Sinto-me guerreiro enfrentando o desconhecido sem a desdita de qualquer fracasso. Não recusarei o primeiro passo, nem a entonação do primeiro grito, no palco vigilante das descobertas verei a cor cintilante do bastão invisível dos empecilhos e não me renderei ao que enxergar com a vista. Jamais me entregarei ao frio de qualquer indiferença. Aqueço-me na tua chama e com gentileza o inimigo da vida me entregará suas armas. Sem qualquer traço de vaidade agradeço a tua presença nesta bolsa de líguido, e sempre. Lanço-me na correnteza e volto de nado aos teus agrados. E nada mais. Quando o milagre da chegada acontecer em meus olhos a tua face estará refletida, e mais jovem em meu coração de menino. Cuide também do meu ser artista, por ser mais senssível que o resto de mim.
Não demarque o espaço, nem prenda-o num fio do espaço. Eu serei da terra, e vençerei sem apego à vitória.
De meio em meio tom agarrado ao instrumento levarei cantigas e pronto.

O SIMPLES NASCEDOURO
Uma forte chuva trazida nas canelas do El Ninõ fazia correr o Rio Piranhas em correntezas fabulosas. O tempo se fechava vindo das bandas do lagamar. Na vista dos curiosos riscavam trezentos curiscos no céu vindos na direção do cariri. - Ói vai ser grande a cheia, bem que disse Zé Botinha, ano de quatro é na certeza, e padim S. José nunca faiou.
A madrugada adentrava nos gemidos das dores daquela mãe nordestina, esperançosa carregava no buço magrelo uma criança desnutrida, que a todo custo queria chegar ao mundo antes da hora. Os trovões bumbavam feito toque de zabumba nos forrós da tabatinga, raios incessantes adentravam pelos buracos da parede clareando a camarinha da gestante indigente. Protegida por uma ruma de santos esprimidos no espelho da penteadeira, iluminada pelos lampejos que fortemente refletiam e, sob os abanos do vento deixavam à vista o mobiliário dos seus aposentos no sincnonismo dos trovões e relampagos ligeiros. Porém, um cotoco de vela aceso já no fim do pavio lamentando a falta de gás do candeeiro, que iluminava piedosamente uma bacia de ágata com água morna. A face do Cristo refletida em Nossa Senhora do bom parto ampliava a luz dando a divina protenção ao ambiente. O suor pingando no rosto da coitadinha, enquanto o pai estatelado na parede da cozinha ruminando a sua fraqueza de homem bruto. Mas, a fé que em seu peito não batucava revestia-se de medo agoniando o seu juízo apontando de fraqueza. Por toda a vizinhança Jogavam-se as cinzas benzidas das fogueiras de São João para acalmar a ventania, e o rosário abençoado por um Bispo da redondeza pregava-se atrás da porta de entrada. Mãe Joana Bornoca entoava suas rezas do seu trançado bento com palha de carnaubeira aliviando a tempestade. Entre o compasso incessante dos pingos que açoitavam o telhado gotejante do casebre e do berreiro dos bodes medrosos da chuva; Ouve-se ali o choro de um bichin, que de olho aregalado escutava com felicidade a algazarra também pássaros. dos grilhos, dos sapos e do converseiro comprido dos mais curiosos. O pai que aparava água de beber na bica nem deu fé do trabalho de parto mulher. Ele um cabôco ajumentado de vaqueirice, puxador das entranhas de vacas e currais de bezerros ficou avamelhado de susto.
Bateu logo um trimilique nos cambito das pernas, uma gastura na boca do estomago, fraquejou sentindo-se um desgraçado e covarde, num chegou nem perto, fez que estava na biqueira, contando as milimétricas gotas da chuva que caiam sobre a sua plantação de sonhos e algodão verde-mocó. Enchendo o pote inté a boca e tampando os ouvidos no primeiro esperneio e gritos de socorro, chega a parteira montada numa jumenta cheia de troço. Tirando dos cacoás seu maquinário parturiente. Ela Dona Zulmira Pereira, desapeia com toda autoridade dando vivas e obrigando ao dono da casa, ordenando-lhe a segurar as pernas e agarrar nas asas da segonha. E num ouve acordo não. Esse era o trato, no serviço gratuito da parteira tinha que ter o acampamento do chefe da familia, para o sujeito sentir a dor do nascimento, ser mais amorroso com o rsto da criadagem, se não seria tachado de homem frouxo. Essa brenda muitos se recusaram, apesar de manterem a fama de machões. Enquanto os filhos desciam de costela abaixo, Zeca Pai do Mato num chegou nem perto. Espiava sempre da brecha, e demorava dias a vê os olhos apitombados dos seus finhin. Foi assim que nasci e mamãe contou pra mim.


Trecho do Livro Inédito "A Nascença do Zé Mosquito

(*) O Autor é Natural de Carnaubais, Músico, Poeta e Mantém um caso de Amor com a Natureza



O MEDO DA MEMÓRIA









(*) Gilberto Freire de Melo
Escritor pendenciense

Há pessoas, em todas as classes humanas e sociais, que têm medo da memória. Algumas, mesmo sem motivos reais de assombração, até por não terem ou serem objetos de registro, têm medo assim mesmo. Outras, apavoradas com a divulgação ou registro público de ações de seus ancestrais, ou de liames intrínsecos, desde que não acobertadas pela dignidade, ou por sentimentos de gratidão, de reconhecimento, de admiração, se ressentem ao mais leve sinal da abertura de arquivos memoriais.
Não é o caso de pessoas, de tipos culturais que, mesmo useiros de hábitos ou de linguagem marginalizados, são motivo de orgulho e de citações obrigatórias nos mais eruditos registros e santuários da memória pública onde se deve guardar a história, o veículo mais importante da passagem do tempo, fato indispensável à coexistência das gerações.
O caso de Seu Nilo da Boa Vista, por exemplo é digno de registro sem envergonhar seus descendentes e sem ofensa ou afronta aos meios culturais. Nasceu, criou-se e viveu ali, sem conhecer outro ambiente a não ser o pé do balcão de Miguel, no povoado, onde diariamente tomava suas leroadas, após o encaminhamento de seus caprinos aos pastos habituais.
Por ser um dos patriarcas mais venerados da terra de Manoel Rodrigues de Melo, Seu Nilo recebia, como bom sertanejo e melhor pendenciense, visitas qualificadas e, com o seu linguajar característico, brindava os visitantes com estórias e causos de alto calão, durante e após o almoço, no alpendre, onde se armavam as mais confortáveis e reservadas redes de dormir, para o exercício da sesta, que ninguém é de ferro.
Uma certa vez, o visitante afortunado era Manoel Casado, diretor superintendente da Companhia Comércio e Navegação, em Macau, que, vez por outra, invadia os domínios do Faraó para a reciclagem gastronômica e mental, ao sabor das tiradas antológicas próprias do fazendeiro, que não pedia licença nem ao Papa para empregar seus conhecimentos lingüísticos, próprios da região e da formação adquirida.
Deitados em redes especiais, estavam Manoel Casado, esposa e filhos, Seu Nilo e agregados, assistindo ao costumeiro festival de sexo, acompanhado do alegre som do bodejado que não podia faltar.
Sem entender alguns detalhes sexuais das ações dos caprinos atuantes, Manoel Casado, curioso, perguntou:
-Seu Nilo, por que é que os bodes lambem o cipó quando descem das cabras?
Sem titubear, Seu Nilo respondeu:
- Você não lambe o seu porque tem o pescoço curto.

(*) Autor de Absurdos Gramaticas e Reportagens que Ninguém Escreveu

O VIOLEIRO E A RETÓRICA DA JIA


Zelito Coringa (*) Autoral

Da viola vertem os versos, do rio descem as águas fazendo xorróxóxó na vazante da rima. Mas, cadê a viola tocando nos alpendres beradeiros?
Nos entroncamentos das primas primadas de sons improvisais?
Cadê o rio correndo de estaleiro abaixo junto ao cantarolar da velha jia, Congelada de frescor quando se camba a noitinha nas margens do Rio Piranhas?

E o açude no torrão de barro? – Não, não secou não, diz um andarilho aboiando pra cacimba sua boiadinha de osso fictícia.
E a vertente no coração do poeta minguando bordões de improviso?
Da donzela que encanta e desencanta o poeta abrindo a cancela dos sentimentos? E o colchete na cancela dos olhares ao dedilhar do pinho, tinindo feito som de arame farpado na visceral carne do desejo em desafio?

Implorando a germinação dos girassóis na manhecença do capim que cresce na babugem dos afoitos guaxinins, dos marrecos azuis cantadores e socós avuantes de repente nos aredores lá de nós? – Decorando a sinfonia dos orquestrados sapos, que afinam seus gogós na lamina de aço da viola repentista. Pasmo de ensolação e rachões de açudes nos pés, sem um sinal da nuvem cheia, mas, em seguida um bando de paturis cortando o vento arribam do sertão.

Além dos viajantes dedos em arpejos bandolins,
Lavrados de amores incalculáveis nos tratados andejos dos caminhos,
Arados na criação repentina e lógica dos versos,
Perde-se o medo de ser poeta – De ter uma perereca de estimação!

Meu gigante tem a verve de pássaro inbatível das secas, que corteja as flores do presente com sua métrica perfeita,,
Cantarolando uma deixa sobre os marés de atlântida.

O esperançoso dos sertanejos se encontra na anti-sala do castelo magistral dos violeiros; que cultivam amores colhendo pétalas de enredos e orações hamonizadas de sóis, nos tamboretes encostados à parede das estrelas do improviso. Escuta-se a cantoria da velha jia numa lagoa de Marte.
Vá e não esqueça de levar pares de cordas de aço e aquecida voz de sapo. A festa vai se porreta.
Seja veloz, seja muito veloz em sua retórica de artista.
- Vai ser grande o rebuliço quando alguém estender o braço pedindo o passo da dança.
- Cante esse mote sem esconder as verdades.
O nordeste vai ser deserto, toque certo enquanto canta.


(*) O autor é natural de Carnaubais, Músico, Poeta e Tem um caso de Amor com a Natureza

O CAVALO ESQUIPADOR




*Gilberto Freire de Melo

Os habitantes da Várzea do Açu, onde se inclui, geograficamente, com muita propriedade o Alto do Rodrigues, mantinham seus hábitos individuais e ostentavam suas peculiaridades esportivas e divertidas que, muitas vezes ultrapassavam os limites da individualidade, tornando-se uma atividade cultural coletiva, própria da comunidade. Não eram monges carrancudos encapuzados na rigidez de seus caprichos. Eram, pelo contrário, alegres, felizes, brincalhões, bem humorados e participavam das ações de lazer e de entretenimento, freqüentando a casa dos amigos, os bares, as valsas, os forrós, as vaquejadas, enfim uma série de divertimentos em que se empenhavam para espantar o ócio, para afugentar as asperezas e os motivos de alegria surgiam imediatamente.
Alguns, especialistas no ramo, criavam cavalos, uns para serviços diversos, outros para esporte, correndo nas vaquejadas, muito comuns ainda na região, e outros ainda para passeio nas tardes de domingo, em que, sob o estímulo de umas birinaites nas bodegas mantidas por alguns mais dados ao comércio, geralmente instaladas à beira das estradas para exploração de cereais, de mantimentos e de umas bebidinhas que, de vez em quando, não faziam mal a ninguém.
Hoje há quem queira denominar MARCHADOR, nos haras mais importantes de alhures, que não se comparam com o ESQUIPADOR, nem são a mesma coisa, até porque este tinha mais velocidade e seu trote tinha passos miúdos e mais velozes, diferentes do trote, do galope ou da marcha. Era realmente uma marcha especial que desapareceu com os mestres especialistas.
E os passeios a cavalo, comuns na região, eram mantidos por uma casta de pecuaristas extraordinários. Criados e ensinados por mestres especializados, havia os cavalos esquipadores. Eram animais mantidos a fino trato, sob cuidados aprimorados, como: aparados os seus cascos, tosadas (ripadas) as suas crinas, escovado o seu pêlo, finalmente tratados com um carinho de que não gozavam os animais comuns, provocando inveja a outros criadores que não tinham nem usavam esses animais, chamados esquipadores. Além do trato do amestrador, era necessário que o animal demonstrasse cedo, ainda novo, as suas tendências para esquipar, como trotando no meio dos outros, num passo mais leve, porém já indicativo de que seria esquipador. Isso mesmo. Esquipador era chamado o cavalo que esquipava. O cavalo que, a partir de novo, ainda potro, além de demonstrar que se adaptaria, aceitava e obedecia às exigências do amestrador que o preparava para as exibições mais caprichosas do proprietário que, em dias especiais, ostentando o melhor que podia adquirir em termos de arreios e de equipamentos, desfilava nas estradas, nas ruas, e nos povoados, parando aqui, acolá, para umas lapadas com os amigos, que ninguém é de ferro.
O trote chamado esquipe ou esquipar era uma espécie de marcha cadenciada, não muito veloz, assim como intermediária entre o galope e a carreira. Era mais que o trote. Era, realmente, uma marcha especial, diferente do trote, do chouto, do galope e da carreira desembestada.
Tinha uma cadência sem maiores solavancos, sem os balanços das outras marchas, que suportava a
postura do cavaleiro conduzindo na mão um copo cheio de cerveja ou mesmo de água sem derramar.
Havia os mais apaixonados por esse tipo de esporte e de exibição. Eram os criadores, os fazendeiros, os rapazes mais garbosos, mais elegantes, mais charmosos que, montavam os seus cavalos e faziam suas idas e vindas pelas ruas ou por onde morassem algumas pretendidas que se debruçavam às janelas esperando a banda passar.. Geralmente eram pares de esquipadores, cada qual mais interessado em demonstrar as suas e as habilidades de seu cavalo. Na Várzea do Açu, de um e do outro lado do rio, conheciam-se, na Tabatinga, José Bolacha, José Jorge das Neves, conhecido por Jovem, João Martins, Gregório Mucuripe, Expedito Ferreira, e outros mais que engrossavam as fileiras.
Do outro lado do rio, no Saco e Xambá, foram conhecidos:
João Rodrigues Ferreira de Melo, falecido em 1926, um dos mais abastados fazendeiros das redondezas e de sua época, conhecido por Joca de Melo que, aos domingos, desfilava nas estradas poeirentas do Saco até o Xambá, exibindo as suas habilidades, sempre com um companheiro, tomando umas e outras, contra a vontade de sua esposa, D. Balbina, que não aprovava esse comportamento. Joca de Melo, sem dar trelas às implicações da esposa que, insulktava a esposa, sabendo que ela, mesmo desaprovando, permanecia no alpendre da casa grande, para receber os galanteios do marido exibicionista. Todas as vezes que passava em frente à residência, Joca de Melo “riscava”(*) o cavalo, tomava o copo de cerveja que conduzia sem derramar desde a fonte, a bodega onde captava a “água benta”, tirava o chapéu e cumprimentava:
- Boa tarde, Dona. Balbiiiiiina!
A mulher que gostava, mas fazia que não, respondia com idêntica cerimônia e no mesmo tom:
- Boa tarde, seu sem-vergooooooonha!
Joca de Melo ria gostosamente e voltava ao outro ponto terminal, onde o esperavam os amigos. Tomava umas e outras e repetia a jornada. Assim passava as horas, desenfastiando o ócio e o mormaço das tardes quentes porém gostosas do nosso verão.
Ainda no Saco se registrou a existência de exímios esquipadores, como Chico de Barros, aquele que levou um tiro no peito, depois de passar esquipando em seu cavalo diversas vezes em frente à casa de Antônio de Gila, conhecido por Seu Tonho de Gila, como a desfeitear a sua família depois do entrevero em que deu umas ligeiradas na irmã de Seu Tonho. Não tinha medo e gostava de comemorar suas ações, desfilando, em seu cavalo esquipador, para afrontar a família desmoralizada. Foi numa dessas tardes domingueiras, esquipando em seu cavalo, em companhia de Zé Correia, cada um no seu, é claro, que, ao passar algumas vezes na frente da casa de seus desafetos, levou um tiro de rifle nos peitos, disparado por Seu Tonho que não perdoara as ligeiradas que Chico de Barros aplicara em sua irmã (de Seu Tonho).
Assim também, numa de suas escaramuças anteriores, Chico de Barros que ameaçara acabar com a feira comercial inaugurada no vilarejo de Pendências, chegou esquipando em seu cavalo para afrontar Luiz Gonzaga, o chefe político de então, e foi recebido com um tiro na coxa que frustrou a sua intenção de acabar a feira, fatos já enunciados por nós em outros trabalhos, igualmente temáticos como este.
Dos mais adestrados esquipadores conhecidos na região, ainda estão aí Expedito Ferreira das Neves e Valdecir Medeiros de Moura, firmes e fortes, apesar da proximidade dos noventa janeiros, prontos para esquipar e fazer riscar os mais afoitos cavalos que porventura lhes apareçam.
Há um detalhe interessante a ser analisado. O professor, o mestre, o especialista em ensinar tem que saber e saber bem a teoria e a prática do que ensinam. Em todas as atividades conhecidas como objetivos de ensino, apenas os mestres de cavalos esquipadores não sabiam esquipar. Não é interessante?
Não deixavam, os cavalos esquipadores, de produzirem uma certa euforia em quem os montava, tornando-os petulantes, até arrogantes, posto que era uma destreza não atribuída a muitos, e eram poucos os animais que se adaptavam a essa técnica. Conheceram-se alguns cavaleiros esquipadores que desfilavam, em todo o percurso, com um copo d´água ou de cerveja na mão, sem derramar o líquido, dada a serenidade do passo do animal. Não eram também muitos os mestres que tinham a maestria de Chico Caetano, exímio treinador e especializado em adestrar potros esquipadores.
(*) “Riscar o cavalo” significava obrigá-lo a uma parada brusca que, de tão violenta, riscava o solo com os cascos que deslizavam, provocando uma nuvem de poeira no local.. Assim, Joca de Melo riscava o seu alazão para, com toda a cortesia, cumprimentar D. Balbina, sua esposa, num gesto especialíssimo de cortesia, fazendo a corte, como se dizia na linguagem colonial.
ALTO DO RODRIGUES - Uma história de Amor e Progresso / Livro em que se publicou o texto. Contatos: 084-3234-8881

OS BARRADOS DA BARRAGEM

Foto de Getúlio Moura, o tabatingueiro, autor de Um Rio Grande e Macau

Zelito Coringa (*) Autoral

O que podemos dizer da eficiência do desenvolvimento na nossa região que, num piscar de olhos, desçe de ribanceira abaixo levando toda a riqueza, com sortimento de salada mista de frutas e camarões, de currais e hortaliças dos beradeiros, de vazantes inexistentes e a insalubridade aguda dos cacimbões. Que dirão os pensadores manobristas dessas paragens inteligentes? A chuva, símbolo da fartura, se fez calamidade e tudo é bem resolvido na base do assistencialismo. E por onde vai o misto da verdade buscar o verdadeiro entendimento? Ele segue pela antiga estrada da várzea, no meio do atoleiro intolerável do presente, nunca chega à terra prometida do futuro decantada em versos?


O passado se retrata na imagem mais digital desse instante. Nesse exato momento, muitos estão desabrigados, deslocados em abrigos e bem assistidos, até. Solidariedade não falta, ninguém pode negar isso. Agora é preciso dar nome ao culpado das enxurradas violentas. Sim, eu sei quem é o responsável, responde o mesmo sitiante esperançoso e analfabeto - Deus! Deus é que pode tudo. E Esse mesmo Deus, temido por todos nós, será então morto e crucificado num tronco de carnaubeira para livrar o nome dos bois. Que vós não sejais chamado de quaisquer coisa ruim.

Muito tempo já se passou depois da contrução da tão milagrosa barragem Ribeiro Gonçalves. Mas a quem verdadeiramente vem servindo com todo o seu manancial irrigatório? Pergunto: e os grandes açudes, as lagoas e afluentes desviados de seus cursos? Estão dizendo que mais açudes virão e a transposição também vem, consequentemente mais água, mais água e nenhuma gota para irrigar cultura nenhuma do povo.

A tal sustentabilidade escrita nas agendas do século 21 estão guardadas onde? Será que alguém esqueceu dentro de uma tapera e se foi pras profundezas do oceano junto com as bananas?

Os barrados da barragem - do Baile Festivo do Inverno fora de época de 2008 - são os mesmos homens e mulheres que continuam na lista cruel da fome e esperam o interminével abraço de quem trás na hora mais castigante o ingreso da moeda de troca.

O autor é Natural de Carnaubais, Músico, Poeta e Amante da Natureza

BEIRADEIROS OU BERADEIROS?




Gilberto Freire de Melo (*)

Quase caí da cadeira ao ler a notícia sobre a pesquisa de Nazira Vargas, no Vale do Açu. Não contive o susto de ver revivida uma expressão que julgava extinta do vocabulário regional.
O CLAMOR DOS BEIRADEIROS, título de sua tese de mestrado na PUC/SP. Só que a Dra. Nazira descobriu os beirantes - situados à beira, à margem (estou certo, Nazira?) do rio Açu. Estes habitam a beira do rio desde o começo, onde ele ainda aparece como Piranhas até o Oceano Atlântico e, dado o limite das duzentas milhas da plataforma continental, não se sabe onde vai acabar. É o território do Vale do Açu. Bendito Vale de tantos cantores e de tantos clamores!
BEIRADEIROS - a grafia está correta, embora pedante, e existem ao longo do rio e podem ser ricos, pobres, letrados ou não.
BERADEIROS - o som aberto do primeiro - "é" - em fidelidade à pronúncia dos próprios, são os mais rústicos, tabaréus, matutos, porém os mais identificados com a região e seus clamores. Constituídos de carreiros, lenhadores, pescadores, agricultores, operários de salinas e da indústria extrativa da cera da carnaúba vivem e são encontrados ao longo do curso do rio passando pela "garganta do Estreito" e prosseguindo até as terras salinizadas pelas marés aquém do Oceano Atlântico, área denominado de Várzea do Açu que, dentro do grande vale, vale tudo para os Beradeiros.
Não alfabetizados, vêm de uma casta que não conheceu o rádio, o jornal e muito menos a televisão. Ignoravam qualquer informação mais esclarecida sobre o progresso em outras regiões. E duvidavam da existência de outras culturas além de seus horizontes. Conheci um que, de tão brôco (não era bronco, era brôco mesmo) tinha o nome de Chico Berada.
BERADEIROS sou eu e todos aqueles que clamam por assistência sanitária, escolar, financeira e social e, assim marginalizados, conseguem sobreviver na Várzea do Açu.


(*) O autor é da Várzea do Açu, estudioso de sua linguagem, costumes e hábitos - e é BERADEIRO.

BOM DIA DE CHEGADA

Sejam bem chegados a este espaço beradeiro, que aqui possamos trocar informações contributivas para o nosso vale do Açu. Abraço a todos que nos visitarem.