sábado, 19 de abril de 2008

OS BARRADOS DA BARRAGEM

Foto de Getúlio Moura, o tabatingueiro, autor de Um Rio Grande e Macau

Zelito Coringa (*) Autoral

O que podemos dizer da eficiência do desenvolvimento na nossa região que, num piscar de olhos, desçe de ribanceira abaixo levando toda a riqueza, com sortimento de salada mista de frutas e camarões, de currais e hortaliças dos beradeiros, de vazantes inexistentes e a insalubridade aguda dos cacimbões. Que dirão os pensadores manobristas dessas paragens inteligentes? A chuva, símbolo da fartura, se fez calamidade e tudo é bem resolvido na base do assistencialismo. E por onde vai o misto da verdade buscar o verdadeiro entendimento? Ele segue pela antiga estrada da várzea, no meio do atoleiro intolerável do presente, nunca chega à terra prometida do futuro decantada em versos?


O passado se retrata na imagem mais digital desse instante. Nesse exato momento, muitos estão desabrigados, deslocados em abrigos e bem assistidos, até. Solidariedade não falta, ninguém pode negar isso. Agora é preciso dar nome ao culpado das enxurradas violentas. Sim, eu sei quem é o responsável, responde o mesmo sitiante esperançoso e analfabeto - Deus! Deus é que pode tudo. E Esse mesmo Deus, temido por todos nós, será então morto e crucificado num tronco de carnaubeira para livrar o nome dos bois. Que vós não sejais chamado de quaisquer coisa ruim.

Muito tempo já se passou depois da contrução da tão milagrosa barragem Ribeiro Gonçalves. Mas a quem verdadeiramente vem servindo com todo o seu manancial irrigatório? Pergunto: e os grandes açudes, as lagoas e afluentes desviados de seus cursos? Estão dizendo que mais açudes virão e a transposição também vem, consequentemente mais água, mais água e nenhuma gota para irrigar cultura nenhuma do povo.

A tal sustentabilidade escrita nas agendas do século 21 estão guardadas onde? Será que alguém esqueceu dentro de uma tapera e se foi pras profundezas do oceano junto com as bananas?

Os barrados da barragem - do Baile Festivo do Inverno fora de época de 2008 - são os mesmos homens e mulheres que continuam na lista cruel da fome e esperam o interminével abraço de quem trás na hora mais castigante o ingreso da moeda de troca.

O autor é Natural de Carnaubais, Músico, Poeta e Amante da Natureza

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