sábado, 19 de abril de 2008

A NASCENÇA DO ZÉ MOSQUITO


Zelito Coringa (*) Autoral

ANTES DO PARTO
Os raios da estrela azul do ser criativo refletirão sobre os meus pequeninos pés. Permita-me ó Grande Musa do universo ter a proteção e a benção para que seja verdadeira a minha voz. Sinto-me guerreiro enfrentando o desconhecido sem a desdita de qualquer fracasso. Não recusarei o primeiro passo, nem a entonação do primeiro grito, no palco vigilante das descobertas verei a cor cintilante do bastão invisível dos empecilhos e não me renderei ao que enxergar com a vista. Jamais me entregarei ao frio de qualquer indiferença. Aqueço-me na tua chama e com gentileza o inimigo da vida me entregará suas armas. Sem qualquer traço de vaidade agradeço a tua presença nesta bolsa de líguido, e sempre. Lanço-me na correnteza e volto de nado aos teus agrados. E nada mais. Quando o milagre da chegada acontecer em meus olhos a tua face estará refletida, e mais jovem em meu coração de menino. Cuide também do meu ser artista, por ser mais senssível que o resto de mim.
Não demarque o espaço, nem prenda-o num fio do espaço. Eu serei da terra, e vençerei sem apego à vitória.
De meio em meio tom agarrado ao instrumento levarei cantigas e pronto.

O SIMPLES NASCEDOURO
Uma forte chuva trazida nas canelas do El Ninõ fazia correr o Rio Piranhas em correntezas fabulosas. O tempo se fechava vindo das bandas do lagamar. Na vista dos curiosos riscavam trezentos curiscos no céu vindos na direção do cariri. - Ói vai ser grande a cheia, bem que disse Zé Botinha, ano de quatro é na certeza, e padim S. José nunca faiou.
A madrugada adentrava nos gemidos das dores daquela mãe nordestina, esperançosa carregava no buço magrelo uma criança desnutrida, que a todo custo queria chegar ao mundo antes da hora. Os trovões bumbavam feito toque de zabumba nos forrós da tabatinga, raios incessantes adentravam pelos buracos da parede clareando a camarinha da gestante indigente. Protegida por uma ruma de santos esprimidos no espelho da penteadeira, iluminada pelos lampejos que fortemente refletiam e, sob os abanos do vento deixavam à vista o mobiliário dos seus aposentos no sincnonismo dos trovões e relampagos ligeiros. Porém, um cotoco de vela aceso já no fim do pavio lamentando a falta de gás do candeeiro, que iluminava piedosamente uma bacia de ágata com água morna. A face do Cristo refletida em Nossa Senhora do bom parto ampliava a luz dando a divina protenção ao ambiente. O suor pingando no rosto da coitadinha, enquanto o pai estatelado na parede da cozinha ruminando a sua fraqueza de homem bruto. Mas, a fé que em seu peito não batucava revestia-se de medo agoniando o seu juízo apontando de fraqueza. Por toda a vizinhança Jogavam-se as cinzas benzidas das fogueiras de São João para acalmar a ventania, e o rosário abençoado por um Bispo da redondeza pregava-se atrás da porta de entrada. Mãe Joana Bornoca entoava suas rezas do seu trançado bento com palha de carnaubeira aliviando a tempestade. Entre o compasso incessante dos pingos que açoitavam o telhado gotejante do casebre e do berreiro dos bodes medrosos da chuva; Ouve-se ali o choro de um bichin, que de olho aregalado escutava com felicidade a algazarra também pássaros. dos grilhos, dos sapos e do converseiro comprido dos mais curiosos. O pai que aparava água de beber na bica nem deu fé do trabalho de parto mulher. Ele um cabôco ajumentado de vaqueirice, puxador das entranhas de vacas e currais de bezerros ficou avamelhado de susto.
Bateu logo um trimilique nos cambito das pernas, uma gastura na boca do estomago, fraquejou sentindo-se um desgraçado e covarde, num chegou nem perto, fez que estava na biqueira, contando as milimétricas gotas da chuva que caiam sobre a sua plantação de sonhos e algodão verde-mocó. Enchendo o pote inté a boca e tampando os ouvidos no primeiro esperneio e gritos de socorro, chega a parteira montada numa jumenta cheia de troço. Tirando dos cacoás seu maquinário parturiente. Ela Dona Zulmira Pereira, desapeia com toda autoridade dando vivas e obrigando ao dono da casa, ordenando-lhe a segurar as pernas e agarrar nas asas da segonha. E num ouve acordo não. Esse era o trato, no serviço gratuito da parteira tinha que ter o acampamento do chefe da familia, para o sujeito sentir a dor do nascimento, ser mais amorroso com o rsto da criadagem, se não seria tachado de homem frouxo. Essa brenda muitos se recusaram, apesar de manterem a fama de machões. Enquanto os filhos desciam de costela abaixo, Zeca Pai do Mato num chegou nem perto. Espiava sempre da brecha, e demorava dias a vê os olhos apitombados dos seus finhin. Foi assim que nasci e mamãe contou pra mim.


Trecho do Livro Inédito "A Nascença do Zé Mosquito

(*) O Autor é Natural de Carnaubais, Músico, Poeta e Mantém um caso de Amor com a Natureza



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